Meu filho Douglas Takemura completou 34
anos ontem. Há cerca de dez anos, ou pouco mais, ele tem o diagnóstico de
autismo, graças ao neuropsiquiatra Dr. Wanderley Manoel Domingues.
Anteriormente, desde poucos meses, era considerado portador de paralisia
cerebral. Bebê ainda iniciou terapias específicas, como: Fono, TO, Fisio,
Ludoterapia, entre outras. Sempre frequentou escolas especializadas, sendo
mesmo até “expulso’ de duas delas, por comportamento inadequado, pois não se
sabia do autismo, nem como lidar com os comportamentos tidos simplesmente como
“desviantes”, e não oriundos do próprio jeito de ser de um autista.
O fato é que ao longo de todos esses anos
de muitas lutas, incluídas as pela manutenção financeira das terapias, a
maioria delas não cobertas pelo convênio do IAMSPE e outros, Douglas vem tendo
até hoje progressos em todas as áreas. São progressos no ritmo a ele peculiar,
não mensuráveis pelo filtro de uma dita “normalidade”, algo com que uma mãe
especial aprende a conviver após alguns anos de batalha, a aceitar e agradecer
pelos bons profissionais que cruzam o caminho e fazem todo o percurso valer a
pena.
Desde pequeno eu me preocupava muito com a
higiene dos dentes, algo de difícil realização, pois ele trancava o maxilar,
mordia meus dedos pelo reflexo, pela hipertonia, enfim, eu costumava subir
sobre seu corpinho com todo o cuidado, deixando apenas a cabeça dele livre,
para que eu pudesse limpar seus dentes da melhor maneira possível. De quando em
quando, ele era examinado pela minha prime dentista. Por meio de brincadeiras,
no meu colo, eu o deitava para trás, várias vezes, entre suas risadas, ela
tentava examinar os dentinhos, os quais por muitos e muitos anos, permaneceram
aparentemente sem cáries, graças também à minha persistência na escovação. Pelo
menos a higiene da noite, ou uma delas no dia, feita com mais cuidado, entre
uma birra e outra, entre mordidas, muitas vezes. Fiz inúmeras pesquisas sobre
locais de atendimento especializados, com anestesia, com sedação. Muitos foram
os profissionais consultados, mas, em geral, chegava-se a dois caminhos:
sedação ou anestesia, ou permancer
quieto na cadeira do dentista, permitindo o tratamento.
Por indicação de uma sobrinha formada em
Odontologia na USP, cheguei ao CAPE-USP, especializado no atendimento gratuito
de pessoas especiais. Por cerca de sete anos, houve um acompanhamento
odontológico com a mesma profissional. No entanto, as consultas são marcadas
geralmente com um intervalo de um mês, o material utilizado nos tratamentos não
é de boa qualidade, o tempo de na sala de espera é uma tortura para um autista
e sua mãe. Ao final, a própria dentista chegou a recomendar que eu procurasse
outra forma de tratamento, pois Douglas não mais permitia as intervenções,
agitando-se demasiadamente e comprometendo a qualidade do tratamento.
Novamente às voltas com essa demanda tão
importante, e muito preocupada com a saúde bucal do meu filho, fiz contato por
meio do Facebook com a Drª Adriana Gledys Zink, cujo trabalho eu já conhecia
por meio das redes sociais, das listas de discussão sobre o autismo.
Profissional a quem eu admirava muitíssimo, mas que eu imaginava cuidar apenas
de crianças autistas, cheguei a duvidar
de que ela daria conta de cuidar dos dentes do Douglas, pois, na última
tentativa de tratamento, para se desvencilhar, ele havia quase destruído o
consultório de outra dentista. Estávamos eu e mais duas pessoas tentando
imobilizá-lo e permitir que a profissional fizesse seu trabalho. No final, essa
dentista, não especializada, apenas conseguiu cobrir o local com massa, o que
resultou numa inflamação na gengiva.
Após contatos por telefone com a Drª
Adriana, marcamos a primeira consulta, em março de 2012. Desde o primeiro
momento, houve um entrosamento total entre o Douglas e a Drª Adriana. A cada
passo, uma explicação sobre o
procedimento e o instrumento a ser utilizado. Respeito profundo pela pessoa
sentada na cadeira a ser submetida a um tratamento que assusta a qualquer um de
nós, não apenas a alguém que não sabe verbalizar isso. Não foi necessário
realizar contenção em nenhum momento. Muito menos sedação ou anestesia, como eu
supunha necessitar. Douglas colaborou o tempo todo, em todas as vezes, sem
agitação, sem birras, sem ansiedade! Parecia um sonho!
Ficamos maravilhados não apenas pelo
desempenho profissional, pela habilidade em lidar com o paciente no seu tempo,
respeitando suas limitações, e conseguindo, efetivamente, fazer um trabalho
caprichado, digno, respeitoso com relação ao autista e à sua família. Além
disso, a simplicidade da Drª Adriana, em contraste com sua competência, sua
simpatia contagiante, uma pessoa fascinante com quem se tem vontade de ficar
horas e horas conversando. Como se não bastasse isso, o esposo, também
dentista, Dr. Marcelo, que atende a seus pacientes no mesmo local, é uma
criatura admirável.
Enfim, cuidar dos dentes do Douglas não é
mais um problema. Contamos com uma profissional competente e uma pessoa
encantadora. Na verdade, é isso: a Drª Adriana parece agir como “encantadora”
de autistas. Como algo mágico, eles se sentam na cadeira tão temida, ouvem as
explicações, interagem com a profissional e, sobretudo, permitem, sem traumas e
sofrimentos, que o tratamento dentário seja efetivado.
Para o Douglas, ir ao consultório tratar
dos dentes tem sido um prazer. Ele sempre quer se vestir muito bem, de
preferência colocando algo que o identifique como verdadeiro corintiano que é.
Aliás, logo ao início do tratamento, Douglas recebeu um diploma por bom
comportamento. Nós o colocamos numa moldura num local em destaque em nossa
casa, dada a importância do fato. E, ao término do tratamento, Douglas, ganhou da
Drª Adriana Zink, conforme prometido, desde o início, um lindíssimo chaveiro
com o símbolo do Corinthians, seu time do coração.
Como mãe de um autista adulto, e que já
passou por muitos e muitos momentos de intensos sofrimento e ansiedade com
relação ao cuidado dos dentes do filho, recomendo que façam contato com a Drª
Adriana Zink, que marquem uma visita ao seu consultório, e que se surpreendam
positivamente com os resultados maravilhosos atingidos, independentemente da
idade de seus filhos.
Se anteriormente já admirávamos a Drª
Adriana Zink pelos méritos profissionais, atualmente somos seus fãs
incondicionais!
Diva Cleide Calles (São
Paulo, SP)
dccalles@gmail.com
Revisora (português),
professora (inglês, português, português língua estrangeira)
15.7.2012
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