Introdução:
Ela é dentista de pacientes especiais, paulistana, seu
consultório está localizado em Tucuruvi, zona norte de São Paulo.
É carinhosamente chamada de Encantadora de Autistas,
escreveu o livro “Autismo e Odontologia – É brincando que se atende”, é
colaboradora da "Revista Autismo" com publicações relacionadas à
odontologia, é membro do Movimento Orgulho Autista Brasil, é voluntária no
projeto social "Vila Maria um caso de amor", é professora da APCD na
especialização de pacientes com necessidades especiais, membro da Associação
Latinoamericana de odontologia para pacientes especiais, Membro da Câmara
técnica de pacientes especiais do CROSP.
Já realizou várias palestras sobre o assunto pelo mundo,
ganhadora do VI Prêmio orgulho autista Brasil 2011, o seu blog está entre os
mais votados(www.adrianazink.blogspot.com). Ela é a Drª Adriana Gledys Zink.
Perguntas:
Jaqueline
e Mariana: Quem ou o que te inspirou a ser dentista de pacientes especiais
Adriana:
A
escolha pela especialização em odontologia para pacientes com necessidades
especiais foi espontânea e sem nenhuma motivação anterior. Resolvi fazer e
adorei.
Jaqueline
e Mariana: Você já sofreu algum preconceito de colegas dentistas por você se
dedicar a pacientes especiais?
Adriana:
Muitas
vezes. Alguns colegas pensam que é uma área sem “glamour”, e também com pouco
retorno financeiro, mas na verdade é uma área muito gratificante e com o mesmo
retorno financeiro das demais áreas da odontologia.
Jaqueline
e Mariana: Sabemos que você é voluntária na Escola de Samba Unidos da Vila Maria,
como é o seu trabalho lá?
Adriana:
Sou
voluntária desde o início do projeto em 2007 e atendo pacientes especiais
carentes (adultos e crianças). É bem complicado conseguir esse atendimento
público então eles sofrem muito a procura de lugares com atendimento gratuito.
Muitos tem dor de dente e ficam agressivos, as famílias não sabem o que fazer e
o serviço público não oferece esse atendimento. É muito triste. Embora a fila
seja enorme o Marcelo (meu marido também dentista) e eu fazemos a nossa parte.
Jaqueline
e Mariana: Como você desenvolveu esse método de condicionamento para tratar
pacientes especiais?
Adriana:
Tive
muita dificuldade no início, não conseguia atende-los sem o uso da contenção
física, então comecei a estudar mais, frequentar palestras com grupos de pais,
escutar as queixas e finalmente fui adaptando tudo que aprendi ao
condicionamento do paciente para o tratamento odontológico. Hoje, atendo a
maioria deles sem uso de contenção e com isso pretendo diminuir o número de
atendimentos odontológicos com anestesia geral em hospital.
Jaqueline
e Mariana: Algum dentista já adotou seu método de condicionamento para atender
seus pacientes?
Adriana:
Já
sim. Na Unicsul os alunos do último ano da graduação já recebem esse
treinamento mesmo sem a especialização. Na APCD o treinamento é dado aos
especialistas. A UNIP teve uma aula esse ano para os alunos do último ano da
graduação. Muitos colegas acessam o blog para obter informações e dicas. Estive
no Peru esse ano divulgando meu trabalho. Tudo isso para
melhorar a qualidade de vida desses pacientes e conseguir a inclusão no
atendimento odontológico a nível ambulatorial.
Jaqueline
e Mariana: Sabemos que você está realizando uma pesquisa com dentes de leite de
crianças autistas, qual é a finalidade dessa pesquisa?
Adriana:
sou
colaboradora aqui no Brasil da pesquisa de Alyssom Muotri da Universidade da
Califórnia. A base da pesquisa é retirar as células tronco dos dentes decíduos
( de leite) e encontrar uma alteração cromossômica (genética) comum aos
autistas e dessa maneira identificar um fármaco que ajude ou leve “a cura” do
autismo. É uma grande esperança para pais do mundo inteiro. O Alyssom é
brasileiro e trabalha nos Estados Unidos.
Jaqueline
e Mariana: Como é realizada a primeira consulta dos seus pacientes especiais?
Adriana:
A 1ª
consulta é realizada apenas com os pais sem a criaça para colher todas as
informações necessárias na elaboração do plano de atendimento. Essa entrevista
dura em média 1h30min por isso a criança não vem junto, ficaria estressada.
Jaqueline
e Mariana: Como os pais e familiares de seus pacientes especiais vêm o seu
trabalho?
Adriana:
No
início ficam desconfiados e percebo em muitos casos que estão inseguros mas aos
poucos pegam confiança e veem que estou tentando fazer o melhor para aquela
situação. É difícil estar no lugar de pai de uma criança especial, passam por
situações difíceis, tenho que ter paciência com todos.
Jaqueline
e Mariana: Ficamos sabendo, que uma menininha especial que foi sua paciente
(Vitória), infelizmente faleceu. Conte-nos como foi a primeira consulta dela em
seu consultório e qual era a síndrome dela?
Adriana:
A
Vitória era muito linda e bem cuidada, tinha pais especiais. Ela nasceu com
acrania (sem o crânio) e anacefalia (sem um pedaço do encéfalo), inicialmente
foi desenganada e sugeriram aos pais o aborto ainda na gestação. Eles optaram
por ter a Vitória e viveram com ela uns 3 anos. Esse ano ela esteve em Brasília
para ir contra a lei que favorecia o aborto de crianças como ela. Veio ao meu
consultório em dezembro de 2011, não apresentava problemas odontológicos,
recebeu instruções de higiene e cuidados, fez limpeza e foi muito bom, uma
motivação conhecer aquela família. Não irei esquecê-la jamais.
Jaqueline e
Mariana: Seu livro, “Autismo e Odontologia – É brincando que se atende”,
está sendo muito comentado na área odontológica. Como surgiu a ideia de escrevê-lo?
Adriana:
Esse é
o 1º livro com o tema, a linguagem é simples porque está direcionada a pais,
cuidadores e profissionais. Fico muito feliz com os comentários, embora as
críticas me ajudem a melhorar. Em breve vou lançar um manual de atendimento
específico para dentistas.
Jaqueline
e Mariana: Existe algum paciente especial que você não conseguiu atender com o seu
método de condicionamento?
Adriana:
Existe
aquele paciente em que os pais não quiseram tentar e preferiram a anestesia
geral e fazer tudo de uma vez. Até hoje todos que passaram pela técnica de
condicionamento foram tratados, embora alguns tenha sido necessário o uso da
contenção no início do tratamento e aos poucos foi removido e tratado solto.
Temos que individualizar o tratamento e é por isso que muitos desmotivam, acham
que é muito trabalho.
Jaqueline
e Mariana: O que você acha que o Brasil precisa melhorar com relação às pessoas
especiais?
Adriana:
Primeiramente
eu acredito que precisamos aceitar o próximo da forma que ele é e assim seremos
aceitos também. Nosso maior erro é querer sempre mudar as pessoas, fazer delas
o que achamos que é o certo mas as vezes o nosso certo não é tão certo assim.
O Brasil no geral
está caminhando para a inclusão, mas é muito difícil incluir, esse problema
está dentro de casa residência, nas escolas, nos municípios, nos estados, no
mundo.
Adorei, meu filho esta semana estava tratando os dentes, coreeu tudo bem, me interesso em publicar alguns de seus post no meu blog, existe muita dúvida sobre tratar de crianças especiais, acho que vc deixa muito tranquila a situação!
ResponderExcluirWstou seguindo seu blog e te convido a visitar o meu!
beijooo
http://universoautismo.blogspot.com.br/